quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Jonas e um Deus que não é nacionalista

 Esse pequeno e simples texto não tem a intenção de ser uma obra completa sobre a vida do profeta Jonas. Mas, tão somente ser uma pequena reflexão sobre a amplitude de Deus em relação ao mundo. Nela tentaremos entender o propósito de Deus para a humanidade, a falha do profeta e o que nós, enquanto igreja e cristãos podemos fazer para ser um canal pelo qual Deus possa nos usar para alcançar todas as nações começando pelo nosso lar. 

O profeta Jonas, profetizou durante o reinado de Jeroboão II e precedendo imediatamente Amós, ele foi um forte nacionalista que estava completamente consciente da destruição que os assírios haviam feito em Israel através dos anos. Politicamente, é óbvio que ele era um amante leal de Israel e um patriota comprometido. Religiosamente, ele professa um temor ao Senhor como o Deus do céu, o Criador do mar e da terra. O dilema e angústia de Jonas iniciam-se na ordenança divina de ir pregar à Nínive. Jonas achou difícil aceitar o fato de que Deus pudesse oferecer misericórdia a Nínive da Assíria, uma vez que seus habitantes mereciam um julgamento severo. [1]
Ao contrário do que pensa a opinião popular Jonas não apresenta medo dos ninivitas, mas, sua fuga encontra-se no fato de Jonas querer se afastar da presença de Javé “se levantou para fugir de diante da face do Senhor” (cf. 1.3). Isso demonstra que Jonas tinha uma visão muito localizada da presença de Deus ou, talvez, uma crença de que o Espírito de profecia não iria segui-lo - A loucura do ser humano que quando no erro ou querendo exercer sua própria vontade tenta esconder-se da presença de Deus (cf. Gn 3.8b).

O livro de Jonas é de uma literatura apocalíptica, pois não há uma mensagem específica para Israel ou para um rei, mas, a própria história é a mensagem de amor e compaixão para com outra nação. O que Jonas não conseguia entender é que Deus escolheu Israel para através dele mostrar-se e fazer-se conhecido por todas as nações. Deus sempre se preocupou com os outros povos, afinal, todos são sua criação. Um bom exemplo está na própria genealogia de Jesus onde contém o nome de quatro mulheres, sendo três pecadoras e uma estrangeira (Tamar [Seu papel foi o de uma prostituta – levou o seu sogro Judá a assumir a paternidade de seus filhos (Gn 38.3-30). Tetravó de Davi], Raabe [Meretriz de Jericó – protegeu os invasores israelitas (Josué 2 e 6) – mulher cananéia] Rute [Mulher estrangeira – moabita descendência da união incestuosa de Ló com sua filha  primogênita (Gn 19.37; Rute 1.4-22)] e Bate-Seba [Mulher de Urias – morto traiçoeiramente por ordem de Davi; desta Davi foi pai de Salomão (2Sm 11.3, 15; 12.24]). 

A ordenança divina de ir pregar a Nínive foi realizada em dois momentos. O primeiro ainda em Israel, Jonas demonstra a Deus sua insatisfação em seguir suas instruções “Ah! Senhor! Não foi isso que eu disse, estando ainda na minha terra?” (4.2). E Jonas pega um navio para Társis. Em alto mar, durante a tempestade que Deus envia, os marinheiros cada uma clamava ao seu deus (1.5). Mas, quando descobriram e entenderam que a causa era o Deus de Jonas converteram-se a Ele (cf. 1.14-16).
O segundo momento “E veio a palavra do Senhor segunda vez a Jonas” (3.1) quando desta vez Jonas atende ao chamado e declara à Nínive a sentença de Deus todos os habitantes desde o rei ao mais humilde rogaram ao Senhor (e até os animais ficaram em jejum) e converteram-se dos seus maus caminhos e Deus arrependeu-se do mal que tinha dito que faria (3.5-10). Onde no diálogo com Jonas, mais uma vez, Deus demonstra sua compaixão descrevendo para Jonas o tamanho da cidade, sua população, seus muitos animais e a falta de discernimento das pessoas. Eles não poderiam ser julgados pela sua ignorância (4.9-11). Como disse o próprio Milton Schwantes ao encerrar seu artigo:
“Esta ênfase no tamanho da cidade ajuda a argumentar em prol de sua preservação. A menção das cento e vinte mil pessoas, que nela vivem e que perfazem que “a cidade” seja “a grande”, igualmente realça a premência de não destruí-la. Sim, inclusive a incapacidade de a população discernir “entre a mão direita e sua esquerda” aparece como argumento em favor da preservação da cidade. E, por fim, os “muitos animais” que lá existem também falam em favor da compaixão à cidade. Surpresa! O v. 11 não se refere ao arrependimento mencionado no capítulo3! A decisão em prol da preservação da cidade está no argumento de Deus e não na postura de conversão do povo, do rei e até dos animais, como se lê no capítulo3. Isso indica que realmente é a própria clemência e misericórdia de Deus (v. 2!) que desativa qualquer castigo destrutivo! O arrependimento de Deus (3.9-10) ‘só’ seria uma maneira provisória de expressar sua ação de amor e clemência. Em última instância a própria liberdade de Deus é compaixão! Veja neste sentido, por exemplo, Oséias 11.8-9 e 14.2-9! Graça transforma, porque é livre, como o diz Oséias 14.5! Por isso, transformar não ‘depende de’, em última análise nem mesmo da conversão, mas nada mais é que o outro lado da compaixão e da misericórdia, enfim da gratuidade.” (pág. 23)[2]

A história de Jonas tem muito a nos dizer a respeito do coração de Deus e a missão da igreja. Deus deseja derramar sua graça às nações. Por isso comissionou a igreja a ir e pregar as boas novas por toda a terra (Mt 28.18-20). Quando a igreja tem a atitude de exclusividade mostrada por Jonas e por Israel ela falha em cumprir sua tarefa. Mas, quando a igreja leva a sério o mandamento de Deus de levantar e ir às nações, aquelas pessoas que ouvem a Palavra e respondem com fé experimentam a misericórdia e o perdão de Deus, na medida de sua mudança de vida e do impacto sobre a sua cultura.[3]

A graça de Deus é algo transformador. A graça tem o poder de igualar os seres humanos, tornando-os iguais perante a Deus. É por meio dela que podemos lidar com as diferenças, em suas diversas esferas, e tratar o ser humano com respeito, compaixão e amor. E entender, por meio da graça, que o próximo não pode e não deve ser julgado pela falta de discernimento relativas as coisas espirituais. Antes, devemos entender que todos somos criação e filhos do Deus único. E que se esse Deus, criador de tudo e todos é capaz de lidar com nossas diferenças (de pensamento a gênero), nós que somos criados sua imagem e semelhança também o deveremos saber.


[1] - Comentário da Bíblia de Estudo Plenitude
[2] SCHWANTES, M.. Convite à compaixão: interpretação e meditação a partir de Jonas 4.1-11 o DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v11n2p13-23.Caminhando (online), Brasil, 11, nov. 2009. Disponível em:https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/1245/1260. Acesso em: 27 Sep. 2015.
[3] - Comentário da Bíblia de Estudo Plenitude 

Adriano Silva Fermiano é acadêmico do Curso de Bacharel em Teologia da Universidade Metodista de São Paulo.


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