quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Os Direitos Humanos através de uma educação integral: A Comunidade de Fé apontando o caminho



É sabido que vivemos em uma sociedade onde as coisas estão cada vez mais valorizadas enquanto as pessoas estão cada vez mais “coisificadas”. Vivemos em uma sociedade capitalista onde o caminho para o “sucesso” encontra-se na contramão dos direitos sociais da esmagadora maioria. Essa caminhada para o sucesso do capitalismo trás consigo a injustiça, a exclusão, a desapropriação do ser humano (emocional e vivencial), um trágico aumento da pobreza e o individualismo. Silva salienta que as constantes mudanças da sociedade têm permitido ao ser humano construir seus relacionamentos a partir de sua individualidade, deixando para trás os valores transcendentes. (2009, p. 77)
Neste senário, surge a educação como fonte transformadora para uma Comunidade de Fé que aponta o caminho (em teoria e práxis). “Através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades” (DUDH, pag.1). Onde “a instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais.” (DUDH, pag. 5, Artigo XXVI. 2.)
A educação é em si uma poderosa ferramenta formadora de opinião e de movimentos que com conhecimento e argumentação poderão e podem ter ações que combatam o sistema atual do capitalismo. A igreja possui um ministério de Educação Cristã que é um braço forte na formação de pessoas em sua integridade (formação pessoal, social, política e comunitária). Nesse espaço a igreja pode ensinar a conviver, a ter e a principalmente a ser. Neste sentido LAZIER (2011, p. 82) vai nos dar os quatro pilares, descritos originalmente pela UNESCO, para que a Educação Cristã alcance esse desafio; são eles:
1.                                                 Aprender a conhecer – neste processo o/a educando/a é sujeito e atua ativamente na busca pelo conhecimento e no aprendizado do aprender a saber, ou aprender a conhecer (...) Neste sentido, a pessoa educada  cristamente é agente de transformação da sociedade tendo o Reino de Deus e os valores que sinalizam a presença do Evangelho de Cristo como referencial.
2.                                                 Aprender a fazer – a educação cristã não transmite apenas conhecimento, mas ajuda o/a educando/a a construir este conhecimento e vivenciá-lo em todos os momentos da vida. (...) Educar na perspectiva cristã é educar para a cidadania, para a responsabilidade social, para ação efetiva na sociedade em prol de uma transformação e desenvolvimento das pessoas.
3.                                                 Aprender a conviver – a convivência com os diferentes, num ambiente em que o contraditório se faz presente e questiona, é o grande desafio dos/as cristãos/ãs.(...) A educação cristã tem o apelo da convivência, do estar junto com os/as outros/as.
4.                                                 Aprender a ser – o compromisso da educação cristã é levar (conduzir, caminhar junto com) as pessoas a serem seguidoras de Jesus e a evidenciarem em suas atitudes esta experiência de conversão e transformação. (...) O amor a Deus deve se transformar em amor para com os semelhantes, pois não é possível amar a Deus e não amar ao próximo.
É nessa formação que a Comunidade de Fé pode e deve apontar o caminho para a mudança e a luta contra a injustiça. Se a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) afirma que:
“Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.” (Artigo XXV. 1.)
Então será pela educação e por meio dela que poderemos mudar o conceito e essa aculturação individualista que chegou a nós e permanece nos transformando em seres híbridos, longe dos valores transcendentes.
Tragédias como a de Mariana e os atentados praticados pelo Estado Islâmico ocorridos em Paris, são acontecimentos que deveriam mobilizar todos os povos em ações humanitárias capazes de mudar a situação das pessoas que perderam seus direitos (DUDH Artigo XXV. 1.). Não um assistencialismo incapaz de trazer uma solução ou pelos menos de apontar um caminho para a resolução desta. Nossa sociedade encontra-se muito teórica e com muitos discursos. Utilizamos a bandeira da França em nossos perfis do facebook (o que muito pouco se fez em relação à Mariana). Passamos vídeos em nossas redes sociais sobre o desastre em Mariana. Mas, não temos ações práticas. Existem movimentos isolados esforçando-se para ajudar, contudo, enquanto não houver uma mudança de cultura e uma renovação de entendimento sobre o amor ao próximo, as ações continuarão sendo isoladas.  
Conhecer a Declaração Universal dos Diretos Humanos nos dá pleno conhecimento sobre o que é justiça social e consequentemente o que é a injustiça e como a Igreja é um agente que tem por finalidade combater todo o tipo de injustiça, esse conhecimento trás uma melhor capacitação para o desenvolvimento de planos e ações para que esse combate seja cada vez mais eficaz e cada vez mais abrangente impulsionando a fé a uma prática de vida, na vida e pela vida.     
Concluo com as palavras de Richter Reimer (2009, p. 16) de como através da educação a igreja pode e deve se tornar um espaço de cidadania.
“Para conceber “educação” ou processos pedagógicos faz-se necessário observar o desenvolvimento social e individual de pessoas e grupos. Trata-se de considerar aspectos internos e externos, biológicos e culturais na formação. Do ponto de vista interno, a educação é um acontecimento, uma postura e uma práxis em nível pessoal, mas também institucional-organizacional para um grupo de pessoas que estão interrelacionadas e comprometidas pela consciência e que concordam com valores motivadores para o processo do “vir-a-ser”, bem como de responsabilidades que assumem neste processo. Percebemos, portanto, a educação como um fenômeno dentro de uma dinâmica histórico-global maior (FRÖR, 1986), na qual a práxis do “cuidado” em processos de crescimento e amadurecimento, na construção de uma consciência e de uma auto-estima que tem na confiança um alicerce seguro é elemento fundamental e decisivo.”


REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

LAZIER, J.. A Bíblia e o ensino: por uma educação integral o DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v16n1p79-85. Caminhando (online), Brasil, 16, feb. 2011. Disponível em:https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/2370/2529. Acesso em: 30 Nov. 2015.

Ministério Público Federal, Procuradoria Regional da República da 3ª Região. Declaração Universal dos Direitos Humanos – ONU. Disponível em: http://www.prr3.mpf.mp.br/imagens/boletim_info/dudh-onu.pdf Acessado em: 30 Nov. 2015

RICHTER REIMER, I.. Educação teológica como serviço à vida à luz da práxis crítico-libertadora de Jesus o DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v14n2p15-27. Caminhando (online), Brasil, 14, oct. 2009. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/1104/1130. Acesso em: 30 Nov. 2015.

SILVA, G.. Os desafios do ministério pastoral numa sociedade em processo de globalização: um estudo a partir da implantação e desenvolvimento do protestantismo no Brasil e suas mediações pastorais - DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v8n1p74-88. Caminhando (online), Brasil, 8, nov. 2009. Disponível em:https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/1435/1461. Acesso em: 30 Nov. 2015.

Adriano Silva Fermiano é acadêmico do Curso de Bacharel em Teologia da Universidade Metodista de são Paulo

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