É
sabido que vivemos em uma sociedade onde as coisas estão cada vez mais
valorizadas enquanto as pessoas estão cada vez mais “coisificadas”. Vivemos em
uma sociedade capitalista onde o caminho para o “sucesso” encontra-se na
contramão dos direitos sociais da esmagadora maioria. Essa caminhada para o
sucesso do capitalismo trás consigo a injustiça, a exclusão, a desapropriação
do ser humano (emocional e vivencial), um trágico aumento da pobreza e o
individualismo. Silva salienta que as constantes mudanças da sociedade têm
permitido ao ser humano construir seus relacionamentos a partir de sua
individualidade, deixando para trás os valores transcendentes. (2009, p. 77)
Neste
senário, surge a educação como fonte transformadora para uma Comunidade de Fé
que aponta o caminho (em teoria e práxis). “Através do ensino e da educação,
por promover o respeito a esses direitos e liberdades” (DUDH, pag.1). Onde “a
instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade
humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas
liberdades fundamentais.” (DUDH,
pag. 5, Artigo
XXVI. 2.)
A
educação é em si uma poderosa ferramenta formadora de opinião e de movimentos
que com conhecimento e argumentação poderão e podem ter ações que combatam o
sistema atual do capitalismo. A igreja possui um ministério de Educação Cristã
que é um braço forte na formação de pessoas em sua integridade (formação
pessoal, social, política e comunitária). Nesse espaço a igreja pode ensinar a
conviver, a ter e a principalmente a ser. Neste sentido LAZIER (2011, p. 82)
vai nos dar os quatro pilares, descritos originalmente pela UNESCO, para que a
Educação Cristã alcance esse desafio; são eles:
1.
Aprender
a conhecer – neste processo o/a educando/a é sujeito e atua ativamente na busca
pelo conhecimento e no aprendizado do aprender a saber, ou aprender a conhecer
(...) Neste sentido, a pessoa educada cristamente é agente de transformação da
sociedade tendo o Reino de Deus e os valores que sinalizam a presença do
Evangelho de Cristo como referencial.
2.
Aprender
a fazer – a educação cristã não transmite apenas conhecimento, mas ajuda o/a
educando/a a construir este conhecimento e vivenciá-lo em todos os momentos da
vida. (...) Educar na perspectiva cristã é educar para a cidadania, para a
responsabilidade social, para ação efetiva na sociedade em prol de uma
transformação e desenvolvimento das pessoas.
3.
Aprender
a conviver – a convivência com os diferentes, num ambiente em que o
contraditório se faz presente e questiona, é o grande desafio dos/as
cristãos/ãs.(...) A educação cristã tem o apelo da convivência, do estar junto
com os/as outros/as.
4.
Aprender
a ser – o compromisso da educação cristã é levar (conduzir, caminhar junto com)
as pessoas a serem seguidoras de Jesus e a evidenciarem em suas atitudes esta
experiência de conversão e transformação. (...) O amor a Deus deve se transformar
em amor para com os semelhantes, pois não é possível amar a Deus e não amar ao
próximo.
É
nessa formação que a Comunidade de Fé pode e deve apontar o caminho para a
mudança e a luta contra a injustiça. Se a Declaração Universal dos Direitos
Humanos (DUDH) afirma que:
“Todo
ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua
família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação,
cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em
caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda
dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.” (Artigo XXV.
1.)
Então
será pela educação e por meio dela que poderemos mudar o conceito e essa
aculturação individualista que chegou a nós e permanece nos transformando em
seres híbridos, longe dos valores transcendentes.
Tragédias
como a de Mariana e os atentados praticados pelo Estado Islâmico ocorridos em
Paris, são acontecimentos que deveriam mobilizar todos os povos em ações
humanitárias capazes de mudar a situação das pessoas que perderam seus direitos
(DUDH Artigo XXV. 1.). Não um assistencialismo incapaz de trazer uma solução ou
pelos menos de apontar um caminho para a resolução desta. Nossa sociedade encontra-se
muito teórica e com muitos discursos. Utilizamos a bandeira da França em nossos
perfis do facebook (o que muito pouco se fez em relação à Mariana). Passamos
vídeos em nossas redes sociais sobre o desastre em Mariana. Mas, não temos
ações práticas. Existem movimentos isolados esforçando-se para ajudar, contudo,
enquanto não houver uma mudança de cultura e uma renovação de entendimento
sobre o amor ao próximo, as ações continuarão sendo isoladas.
Conhecer
a Declaração Universal dos Diretos Humanos nos dá pleno conhecimento sobre o
que é justiça social e consequentemente o que é a injustiça e como a Igreja é
um agente que tem por finalidade combater todo o tipo de injustiça, esse
conhecimento trás uma melhor capacitação para o desenvolvimento de planos e
ações para que esse combate seja cada vez mais eficaz e cada vez mais
abrangente impulsionando a fé a uma prática de vida, na vida e pela vida.
Concluo
com as palavras de Richter Reimer
(2009, p. 16) de como através da educação a igreja pode e deve se tornar um
espaço de cidadania.
“Para
conceber “educação” ou processos pedagógicos faz-se necessário observar o
desenvolvimento social e individual de pessoas e grupos. Trata-se de considerar
aspectos internos e externos, biológicos e culturais na formação. Do ponto de
vista interno, a educação é um acontecimento, uma postura e uma práxis em nível
pessoal, mas também institucional-organizacional para um grupo de pessoas que
estão interrelacionadas e comprometidas pela consciência e que concordam com
valores motivadores para o processo do “vir-a-ser”, bem como de
responsabilidades que assumem neste processo. Percebemos, portanto, a educação
como um fenômeno dentro de uma dinâmica histórico-global maior (FRÖR, 1986), na
qual a práxis do “cuidado” em processos de crescimento e amadurecimento, na
construção de uma consciência e de uma auto-estima que tem na confiança um
alicerce seguro é elemento fundamental e decisivo.”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
LAZIER, J.. A Bíblia e o ensino: por uma
educação integral o DOI:
http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v16n1p79-85. Caminhando
(online), Brasil, 16, feb. 2011. Disponível em:https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/2370/2529. Acesso em: 30 Nov. 2015.
Ministério Público Federal, Procuradoria
Regional da República da 3ª Região. Declaração Universal dos Direitos Humanos –
ONU. Disponível em: http://www.prr3.mpf.mp.br/imagens/boletim_info/dudh-onu.pdf
Acessado em: 30 Nov. 2015
RICHTER REIMER, I.. Educação teológica como
serviço à vida à luz da práxis crítico-libertadora de Jesus o DOI:
http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v14n2p15-27. Caminhando
(online), Brasil, 14, oct. 2009. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/1104/1130. Acesso em: 30 Nov. 2015.
SILVA, G.. Os desafios do ministério pastoral
numa sociedade em processo de globalização: um estudo a partir da implantação e
desenvolvimento do protestantismo no Brasil e suas mediações pastorais - DOI:
http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v8n1p74-88. Caminhando
(online), Brasil, 8, nov. 2009. Disponível em:https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/1435/1461. Acesso em: 30 Nov. 2015.
Adriano Silva Fermiano é acadêmico do Curso de Bacharel em Teologia da Universidade Metodista de são Paulo
Adriano Silva Fermiano é acadêmico do Curso de Bacharel em Teologia da Universidade Metodista de são Paulo
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