quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

A Escola Dominical em nossa atualidade ainda é necessária?



Em nossa atualidade a Escola Dominical (ED) é realmente necessária? Prefiro antes de responder tentar fazer uma explanação sobre essa “nossa atualidade”.
Estamos no tempo das redes sociais, onde tudo acontece quase que “full time”. As pessoas utilizam as redes sociais de maneira a substituir – consciente ou inconscientemente - os relacionamentos concretos entre os seres humanos. Nessa facilidade de acesso e comodismo queremos sempre o mais moderno o que nos deixe cada vez mais conectados. Com isso, os aparelhos e as tecnologias tornam-se cada vez mais descartáveis e substituíveis. Infelizmente nesse processo as pessoas também vão tornando-se descartáveis e substituíveis. As amizades e relacionamentos passam a ser pautadas pela quantidade de “amigos/as” e “seguidores/as” que temos em nossas redes sociais. E se algum desses “amigos/as” discordar de um post é só retirá-los da lista de amizades e ou deixar de segui-lo/a. Esse fenômeno também vem acontecendo dentro das igrejas e em especial no espaço da ED. Não estamos conseguindo criar um ambiente de relacionamentos coerentes e concretos entre os membros. Estamos no mesmo ambiente, mas, vivendo em outro lugar. E isso é possível pelo simples fato de estarmos fixados / conectados em nossos smartphones querendo saber o que os “amigos/as” estão postando. Assim, a ED vai perdendo o seu sentido e com isso o interesse por estar presente.
Mas, a tecnologia, que nos possibilita acesso rápido e fácil à informação, não é ruim. Ela é uma ferramenta que está sendo má utilizada, em grande parte pelo analfabetismo (entenda como má ou limitada compreensão) tecnológico dos usuários. Luiz Carlos Ramos escreve em seu artigo a seguinte afirmação: “Mas, para que essa mudança possa trazer benefícios, ter acesso à informação por si só não é suficiente; é preciso que se possa interagir com ela, transformá-la em conhecimento.” (RAMOS, 2002, p. 116). Podemos e devemos utilizar a tecnologia como ferramentas auxiliadoras em nossas Escolas Dominicais uma vez que esta tecnologia contém em si um conjunto de multimídia (áudio, visual, escrita e imagens) que bem aplicados aumentam o interesse pelo ensinamento. Na contra mão, a utilização por si só da tecnologia não garantirá a frequência e o interesse pelo espaço e pelos assuntos tratados na ED se não houver um conteúdo de qualidade e estimulante. Ainda em seu artigo Ramos trás a seguinte colocação:
Mesmo assim, ainda temos um problema: a disponibilidade de equipamentos sofisticados não resolve o problema do conteúdo. Um professor ou uma professora que saiba utilizar equipamentos eletrônicos, mas que não tenha conteúdo, estará sempre em desvantagem em relação ao educador ou educadora que tem o que dizer. Na verdade, corremos o risco da desqualificação do ensino ao maquiá-lo com excessivos ornamentos tecnológicos. A disponibilidade de um instrumento maravilhoso não é garantia de que qualquer um possa produzir música maravilhosa a partir dele. O ideal é que o instrumentista esteja apto a produzir o melhor som a partir do melhor instrumento. A mesma atenção que se dá à forma deve ser dada à elaboração do conteúdo (da informação) com o qual se pretende trabalhar nas classes de Escola Dominical. (RAMOS, 2002, p. 116)
Outro ponto a ser levado em consideração é o espaço da ED para a manutenção ou a perpetuação do tradicionalismo. Ou seria da tradição? Bem, vamos entender essa diferença. Carlos Sider escreve no site da Igreja Batista o texto Tradição ou tradicionalismo? Onde podemos encontrar uma sucinta interpretação para essa diferença:
“Tradição é a fé viva dos mortos. Tradicionalismo é a fé morta dos vivos." (...)Tradição  faz bem. Tradição é sinônimo de experiência. Não só a sua, mas a dos seus ancestrais e de seus contemporâneos.
     Mas tradição sem cérebro ligado não vale nada. A tradição ensina o que deu certo e o que deu errado. E para entendê-la, temos de buscar contextos. Para aplicá-la a nós, temos de traçar paralelos, avaliar se é pertinente ou não. Temos de pensar. Temos de orar. Temos de depender de Deus, apesar da tradição.
     Tradicionalismo é colocar a tradição acima de nosso intelecto, acima da oração, acima de Deus. Tradicionalismo é cultuar a tradição. Portanto, tradicionalismo é uma espécie de idolatria.” (SIDER)
Nesse sentido, o que temos feito com o espaço de nossa ED? Estamos fortalecendo a tradição e a identidade  cristã ou estamos perpetuando o tradicionalismo? Saber essa resposta é saber como nortear o conteúdo e os ensinamentos que são trados nesse espaço. Bem como, de que forma devemos e ou podemos aplicar esses ensinamentos em nossa prática de vida. Tornar o espaço da ED em um local onde é perpetuada a tradição e onde se confirma nossa identidade cristã é criar um espaço de interesses e de relacionamentos concretos. É levar em consideração toda a experiência (de erros e acertos) de nossos antepassados e dos heróis da fé de forma a vivermos um presente e construirmos um futuro melhor. Onde o ensinamento nos dará uma melhor preparação para a vida. Neste sentido Josué Adam Lazier vai nos dizer em seu artigo:
“Uma das ações fundamentais para o cumprimento da missão da Igreja é a da educação, comumente chamada de ministério de ensino. No passado este ministério era designado como “ministério docente”. As expressões ministério de ensino ou ministério docente indicam a ação educativa da Igreja. O termo educação apresenta uma compreensão mais abrangente que a Igreja assume para a tarefa docente, ou seja, não se trata apenas da transmissão do conhecimento, mas sim da preparação para a vida, considerando a sua integralidade. “ (LAZIER, 2011, p. 80)
Após esta explanação sobre nossa realidade minha resposta sobre a necessidade da Escola Dominical seria Sim e Não.
Não, no sentido de um espaço onde se perpetua um tradicionalismo que “mata” e sufoca toda a tradição dos antepassados e que distorce nossa identidade cristã em favor de se criar um corpo dominado e dependente de lideranças capitalistas e despreparadas. Não, para um espaço onde utiliza-se de todo o tipo de tecnologia, mas não se prioriza as relações concretas e baseadas em experiências reais de vida. Não, para um espaço onde educadores/as e educandos/as andam separados e não compartilham do ensino e da construção da transformação de um novo viver. Não. E neste sentido, tenho que concordar com a Andreia Fernandes de Oliveira (Coordenação Nacional de Escola Dominical) ao escrever no site da Igreja Metodista sobre o tema “ A Escola Dominical ainda é necessária?” a seguinte afirmação: 
“Para que não pairem dúvidas, passo a explicar. Uma escola dominical não é mais necessária quando se quer apenas manter o tradicionalismo, preencher um horário, transformá-la num reduto de saudosismo, desconectado com a vida, com a atualidade. Nesse sentido, sou a primeira a afirmar que a Escola Dominical não é mesmo necessária.” (OLIVEIRA)
Mas, digo Sim, a um espaço onde a tradição é ensinada e onde a identidade cristã é confirmada nos ensinamentos e no chamado a missão. Sim, para uma Escola Dominical onde educadores/as e educandos/as caminham lado a lado na construção de uma vida e uma sociedade melhor.
“A educação cristã tem o apelo da convivência, do estar junto com os/as outros/as. Educar, neste sentido, é estar com o/a educando/a e, a partir da realidade em que se encontra, caminhar em busca de uma vida transformada. A educação cristã não é só informação bíblica e acúmulo de conhecimentos, implica numa vivência que possibilite que membros da Igreja tenham condições de viver numa sociedade complexa e contraditória como a nossa, sinalizando as virtudes e os valores do reino de Deus.” (LAZIER, 2011, p. 83)
 Sim, para uma Escola Dominical onde exista um espaço de transformação de vida e de mutualidade entre irmãos/as, onde, as experiências são compartilhadas e vivenciadas. Onde o diálogo é parte efetiva desse processo. Neste sentido, LAZIER vai nos dizer:
“A educação feita a partir do amor, da humildade, da fé na pessoa e da esperança é uma educação humana e humanizadora das relações entre educadores/as e educandos/as e, em contrapartida, geradora de uma relação fraterna e de uma convivência de paz na vida em sociedade em meio às suas contradições. É importante assinalar que mesmo no processo de uma educação humanizadora em que o diálogo se faz presente em todos os momentos, não há, necessariamente, ausência de discordâncias ou antagonismos. A educação realizada com estes aspectos não tem como norte tratar as pessoas como se fossem iguais umas às outras, mas, pelo contrário, considerar as diferenças e o contraditório que se apresenta nas relações sociais.” (LAZIER, 2011, p. 84)
Destarte, finalizo minha posição declarando que Sim. A Escola Dominical é necessária para a continuidade, crescimento e fortalecimento do indivíduo em meio a uma sociedade contraditória ao Reino de Deus. Sendo assim, torno a citar a afirmação da OLIVEIRA:
“Em tempos líquidos e fugidios, a Escola Dominical se apresenta como um sólido e permanente espaço de reflexão. Em tempos onde se valoriza o novo e o imediatismo,  a Escola Dominical nos possibilita olhar para o passado, refletir sobre as experiências vividas e iluminar o presente, sem se fechar ao novo, ao sopro do santo Espírito de Deus, que nos anima e aninha.

Em tempos onde o individualismo e a solidão proliferam na mesma medida que as redes sociais são criadas, a Escola Dominical propicia um espaço de convivência, crescimento e fortalecimento de laços para nos ensinar que viver em comunidade é possível sem perder a individualidade.

Para tudo isso é que acredito que a Escola Dominical é necessária!”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
LAZIER, J.. A Bíblia e o ensino: por uma educação integral o DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v16n1p79-85. Caminhando (online), Brasil, 16, feb. 2011. Disponível em:https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/2370/2529. Acesso em: 15 Nov. 2015. P 80

___________. A Bíblia e o ensino: por uma educação integral o DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v16n1p79-85. Caminhando (online), Brasil, 16, feb. 2011. Disponível em:https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/2370/2529. Acesso em: 15 Nov. 2015. P 83

___________. A Bíblia e o ensino: por uma educação integral o DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v16n1p79-85. Caminhando (online), Brasil, 16, feb. 2011. Disponível em:https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/2370/2529. Acesso em: 15 Nov. 2015. P 84

RAMOS, L.. Os fins justificam a mídia: em busca de uma comunicação integral para a Escola Dominical - DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v7n1p110-123. Caminhando (online), Brasil, 7, dec. 2009. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/1484/1508. Acesso em: 15 Nov. 2015. P. 116

____________. Os fins justificam a mídia: em busca de uma comunicação integral para a Escola Dominical - DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v7n1p110-123. Caminhando (online), Brasil, 7, dec. 2009. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/1484/1508. Acesso em: 15 Nov. 2015. P. 116

OLIVEIRA, Andrei Fernandes. A Escola Dominical ainda é necessária?. Disponível em: http://www.metodista.org.br/a-escola-dominical-ainda-e-necessaria Acessado em: 15 Nov. 2015

SITER, Carlos. Tradição ou tradicionalismo. Disponível em: http://vetorial.net/~ibrg/art_est_07.htm  Acessado em: 15 Nov. 2015

Adriano Silva Fermiano é acadêmico do Curso de Bacharel em Teologia da Universidade Metodista de São Paulo

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