Em
nossa atualidade a Escola Dominical (ED) é realmente necessária? Prefiro antes
de responder tentar fazer uma explanação sobre essa “nossa atualidade”.
Estamos
no tempo das redes sociais, onde tudo acontece quase que “full time”. As pessoas utilizam as redes sociais de maneira a
substituir – consciente ou inconscientemente - os relacionamentos concretos
entre os seres humanos. Nessa facilidade de acesso e comodismo queremos sempre
o mais moderno o que nos deixe cada vez mais conectados. Com isso, os aparelhos
e as tecnologias tornam-se cada vez mais descartáveis e substituíveis.
Infelizmente nesse processo as pessoas também vão tornando-se descartáveis e
substituíveis. As amizades e relacionamentos passam a ser pautadas pela
quantidade de “amigos/as” e “seguidores/as” que temos em nossas redes sociais.
E se algum desses “amigos/as” discordar de um post é só retirá-los da lista de
amizades e ou deixar de segui-lo/a. Esse fenômeno também vem acontecendo dentro
das igrejas e em especial no espaço da ED. Não estamos conseguindo criar um
ambiente de relacionamentos coerentes e concretos entre os membros. Estamos no
mesmo ambiente, mas, vivendo em outro lugar. E isso é possível pelo simples
fato de estarmos fixados / conectados em nossos smartphones querendo saber o
que os “amigos/as” estão postando. Assim, a ED vai perdendo o seu sentido e com
isso o interesse por estar presente.
Mas,
a tecnologia, que nos possibilita acesso rápido e fácil à informação, não é
ruim. Ela é uma ferramenta que está sendo má utilizada, em grande parte pelo
analfabetismo (entenda como má ou limitada compreensão) tecnológico dos
usuários. Luiz Carlos Ramos escreve em seu artigo a seguinte afirmação: “Mas,
para que essa mudança possa trazer benefícios, ter acesso à informação por si
só não é suficiente; é preciso que se possa interagir com ela, transformá-la em
conhecimento.” (RAMOS, 2002, p. 116). Podemos e devemos utilizar a tecnologia
como ferramentas auxiliadoras em nossas Escolas Dominicais uma vez que esta
tecnologia contém em si um conjunto de multimídia (áudio, visual, escrita e
imagens) que bem aplicados aumentam o interesse pelo ensinamento. Na contra
mão, a utilização por si só da tecnologia não garantirá a frequência e o
interesse pelo espaço e pelos assuntos tratados na ED se não houver um conteúdo
de qualidade e estimulante. Ainda em seu artigo Ramos trás a seguinte
colocação:
Mesmo assim, ainda
temos um problema: a disponibilidade de equipamentos sofisticados não resolve o
problema do conteúdo. Um professor ou uma professora que saiba utilizar
equipamentos eletrônicos, mas que não tenha conteúdo, estará sempre em
desvantagem em relação ao educador ou educadora que tem o que dizer. Na
verdade, corremos o risco da desqualificação do ensino ao maquiá-lo com
excessivos ornamentos tecnológicos. A disponibilidade de um instrumento
maravilhoso não é garantia de que qualquer um possa produzir música maravilhosa
a partir dele. O ideal é que o instrumentista esteja apto a produzir o melhor
som a partir do melhor instrumento. A mesma atenção que se dá à forma deve ser
dada à elaboração do conteúdo (da informação) com o qual se pretende trabalhar
nas classes de Escola Dominical. (RAMOS, 2002, p. 116)
Outro
ponto a ser levado em consideração é o espaço da ED para a manutenção ou a
perpetuação do tradicionalismo. Ou seria da tradição? Bem, vamos entender essa
diferença. Carlos Sider escreve no site da Igreja Batista o texto Tradição ou
tradicionalismo? Onde podemos encontrar uma sucinta interpretação para essa
diferença:
“Tradição é a fé viva
dos mortos. Tradicionalismo é a fé morta dos vivos." (...)Tradição faz bem. Tradição é sinônimo de experiência.
Não só a sua, mas a dos seus ancestrais e de seus contemporâneos.
Mas tradição sem cérebro ligado não vale
nada. A tradição ensina o que deu certo e o que deu errado. E para entendê-la,
temos de buscar contextos. Para aplicá-la a nós, temos de traçar paralelos,
avaliar se é pertinente ou não. Temos de pensar. Temos de orar. Temos de
depender de Deus, apesar da tradição.
Tradicionalismo é colocar a tradição acima
de nosso intelecto, acima da oração, acima de Deus. Tradicionalismo é cultuar a
tradição. Portanto, tradicionalismo é uma espécie de idolatria.” (SIDER)
Nesse
sentido, o que temos feito com o espaço de nossa ED? Estamos fortalecendo a
tradição e a identidade cristã ou
estamos perpetuando o tradicionalismo? Saber essa resposta é saber como nortear
o conteúdo e os ensinamentos que são trados nesse espaço. Bem como, de que
forma devemos e ou podemos aplicar esses ensinamentos em nossa prática de vida.
Tornar o espaço da ED em um local onde é perpetuada a tradição e onde se
confirma nossa identidade cristã é criar um espaço de interesses e de
relacionamentos concretos. É levar em consideração toda a experiência (de erros
e acertos) de nossos antepassados e dos heróis da fé de forma a vivermos um presente
e construirmos um futuro melhor. Onde o ensinamento nos dará uma melhor
preparação para a vida. Neste sentido Josué Adam Lazier vai nos dizer em seu
artigo:
“Uma das ações
fundamentais para o cumprimento da missão da Igreja é a da educação, comumente
chamada de ministério de ensino. No passado este ministério era designado como
“ministério docente”. As expressões ministério de ensino ou ministério docente
indicam a ação educativa da Igreja. O termo educação apresenta uma compreensão
mais abrangente que a Igreja assume para a tarefa docente, ou seja, não se trata
apenas da transmissão do conhecimento, mas sim da preparação para a vida,
considerando a sua integralidade. “ (LAZIER, 2011, p. 80)
Após
esta explanação sobre nossa realidade minha resposta sobre a necessidade da
Escola Dominical seria Sim e Não.
Não,
no sentido de um espaço onde se perpetua um tradicionalismo que “mata” e sufoca
toda a tradição dos antepassados e que distorce nossa identidade cristã em
favor de se criar um corpo dominado e dependente de lideranças capitalistas e
despreparadas. Não, para um espaço onde utiliza-se de todo o tipo de
tecnologia, mas não se prioriza as relações concretas e baseadas em
experiências reais de vida. Não, para um espaço onde educadores/as e educandos/as
andam separados e não compartilham do ensino e da construção da transformação
de um novo viver. Não. E neste sentido, tenho que concordar com a Andreia
Fernandes de Oliveira (Coordenação Nacional de Escola Dominical) ao escrever no
site da Igreja Metodista sobre o tema “ A Escola Dominical ainda é necessária?”
a seguinte afirmação:
“Para que não pairem
dúvidas, passo a explicar. Uma escola dominical não é mais necessária quando se
quer apenas manter o tradicionalismo, preencher um horário, transformá-la num
reduto de saudosismo, desconectado com a vida, com a atualidade. Nesse sentido,
sou a primeira a afirmar que a Escola Dominical não é mesmo necessária.”
(OLIVEIRA)
Mas,
digo Sim, a um espaço onde a tradição é ensinada e onde a identidade cristã é
confirmada nos ensinamentos e no chamado a missão. Sim, para uma Escola
Dominical onde educadores/as e educandos/as caminham lado a lado na construção
de uma vida e uma sociedade melhor.
“A educação cristã
tem o apelo da convivência, do estar junto com os/as outros/as. Educar, neste
sentido, é estar com o/a educando/a e, a partir da realidade em que se
encontra, caminhar em busca de uma vida transformada. A educação cristã não é
só informação bíblica e acúmulo de conhecimentos, implica numa vivência que
possibilite que membros da Igreja tenham condições de viver numa sociedade
complexa e contraditória como a nossa, sinalizando as virtudes e os valores do
reino de Deus.” (LAZIER, 2011, p. 83)
Sim, para uma Escola Dominical onde exista um
espaço de transformação de vida e de mutualidade entre irmãos/as, onde, as
experiências são compartilhadas e vivenciadas. Onde o diálogo é parte efetiva
desse processo. Neste sentido, LAZIER vai nos dizer:
“A educação feita a
partir do amor, da humildade, da fé na pessoa e da esperança é uma educação
humana e humanizadora das relações entre educadores/as e educandos/as e, em contrapartida, geradora de uma relação fraterna e de uma convivência de paz na vida em sociedade em meio
às suas contradições. É importante assinalar que mesmo no processo de uma educação humanizadora em que o diálogo se faz presente em todos os momentos, não há, necessariamente, ausência de discordâncias ou antagonismos. A educação realizada com estes aspectos não tem como norte tratar as pessoas como se fossem iguais umas às outras, mas, pelo contrário, considerar as diferenças e o contraditório que se apresenta nas relações sociais.” (LAZIER, 2011, p. 84)
Destarte,
finalizo minha posição declarando que Sim. A Escola Dominical é necessária para
a continuidade, crescimento e fortalecimento do indivíduo em meio a uma
sociedade contraditória ao Reino de Deus. Sendo assim, torno a citar a
afirmação da OLIVEIRA:
“Em
tempos líquidos e fugidios, a Escola Dominical se apresenta como um sólido e
permanente espaço de reflexão. Em tempos onde se valoriza o novo e o
imediatismo, a Escola Dominical nos possibilita olhar para o passado,
refletir sobre as experiências vividas e iluminar o presente, sem se fechar ao
novo, ao sopro do santo Espírito de Deus, que nos anima e aninha.
Em tempos onde o individualismo e a solidão proliferam na mesma medida que as redes sociais são criadas, a Escola Dominical propicia um espaço de convivência, crescimento e fortalecimento de laços para nos ensinar que viver em comunidade é possível sem perder a individualidade.
Para tudo isso é que acredito que a Escola Dominical é necessária!”
Em tempos onde o individualismo e a solidão proliferam na mesma medida que as redes sociais são criadas, a Escola Dominical propicia um espaço de convivência, crescimento e fortalecimento de laços para nos ensinar que viver em comunidade é possível sem perder a individualidade.
Para tudo isso é que acredito que a Escola Dominical é necessária!”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
LAZIER, J.. A Bíblia e o ensino: por uma
educação integral o DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v16n1p79-85. Caminhando
(online), Brasil, 16, feb. 2011. Disponível em:https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/2370/2529. Acesso em: 15 Nov. 2015. P 80
___________. A Bíblia e o ensino: por uma
educação integral o DOI:
http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v16n1p79-85. Caminhando
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___________. A Bíblia e o ensino: por uma
educação integral o DOI:
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(online), Brasil, 16, feb. 2011. Disponível em:https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/2370/2529. Acesso em: 15 Nov. 2015. P 84
RAMOS, L.. Os fins justificam a mídia: em busca
de uma comunicação integral para a Escola Dominical - DOI:
http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v7n1p110-123. Caminhando
(online), Brasil, 7, dec. 2009. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/1484/1508. Acesso em: 15 Nov. 2015. P. 116
____________. Os fins justificam a mídia: em
busca de uma comunicação integral para a Escola Dominical - DOI:
http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v7n1p110-123. Caminhando
(online), Brasil, 7, dec. 2009. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/1484/1508. Acesso em: 15 Nov. 2015. P. 116
OLIVEIRA, Andrei Fernandes. A Escola Dominical
ainda é necessária?. Disponível em: http://www.metodista.org.br/a-escola-dominical-ainda-e-necessaria Acessado em: 15 Nov. 2015
SITER, Carlos. Tradição ou tradicionalismo.
Disponível em: http://vetorial.net/~ibrg/art_est_07.htm Acessado em: 15 Nov.
2015
Adriano Silva Fermiano é acadêmico do Curso de Bacharel em Teologia da Universidade Metodista de São Paulo



11:53
Unknown

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