quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O existencialismo em nossa contemporaneidade



“O existencialismo aceita a multiplicidade de
experiências, desejos e sonhos humanos; nada do
que é humano lhe é estranho ou necessariamente
impróprio. A atitude existencialista pode analisar o
indivíduo e a sociedade, a solidariedade e o
entendimento entre os homens, a vontade de poder
no mundo e a busca do transcendental” (ABAGNANO,
2006, p.39-40 apud TRIGO, 2012, p. 114).

Falar sobre o existencialismo é falar sobre o indivíduo e sua liberdade. É falar da pessoa enquanto EU e de sua responsabilidade para com o OUTRO. É relembrar dos seus diretos e seus deveres. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) declara que: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.” (DUDH Artigo I). Deste Artigo se desencadeia toda a DUDH, pois ao mesmo tempo em que relata a liberdade do ser ao mesmo tempo o remete a sua responsabilidade para com o próximo e com a sociedade.
 O ser humano é dotado de liberdade e esse é um estado intrínseco a sua natureza. Natureza esta que Santo Agostinho considera que “é proveniente do modo [modus], da espécie [species] e da ordem [ordo] nelas infundidas por Deus” (COUTINHO, 2010, p. 126). Ou seja, todo o ser humano é essencialmente bom é que o mal não é senão a corrupção ou do modo, ou da espécie, ou da ordem naturais (COUTINHO, 2010, p. 126). Este conhecimento sobre o bem e o mal no existencialismo trás a nossa reflexão que todos somos passíveis a corrupção de nossa natureza nos levando a um existencialismo individualista não levando em consideração a existência, a convivência e a felicidade do outro.
Nesta dialética entre o eu e o outro, questionamentos surgem e nos fazem entender que este conflito social e de interesses trás em si a necessidade de uma reflexão de que a nossa liberdade influencia e ou interfere na existência do outro. Neste sentido Márcio Danelon nos trás o seguinte entendimento:
“A liberdade está no cerne da vida coletiva na medida em que viver no público significa conviver com o outro, ou seja, em toda a vida social é subjacente à relação entre o EU e o OUTRO. Ora, é exatamente nesta relação EU-OUTRO, fundante e fundamental da vida social, que encontramos, inerente a esta relação, o problema da liberdade. Assim, nas relações interpessoais, podemos questionar quais os limites da minha liberdade sobre o outro e a do outro sobre a minha? Quais os valores subjacentes à ação livre são necessários para a convivência com o outro? O modo de vida do outro impõe limites à minha liberdade, e até que ponto esta limitação constitui-se num Bem para mim? E, se ao afirmar livremente minha forma de viver, e em decorrência desfrutar de momentos felizes, esta forma acarretar um dano ao outro? Este dano é um Bem para mim, pois afirma a minha felicidade, mas é um Mal para o outro, pois lhe trás dores. Como, então, conviver com esta situação? Até que ponto ser livre para agir não implica no fazer do outro um meio para a minha liberdade? O sentimento de ódio, e suas decorrências como a vingança, a luta, o assassinato, não são inerentes ao relacionamento EU-OUTRO, na medida em que o OUTRO impõe limites à minha liberdade, a minha felicidade e ao meu prazer, e por isso, odiamos o OUTRO e desejamos exterminá-lo? Estaria certa a afirmação sartreana de que “O inferno são os outros” na peça teatral Hui clos (Entre Quatro Paredes)” (DANELON, 2002)

Iniciamos nossa reflexão com uma citação de Abagnano onde ele afirma que o existencialismo aceita a multiplicidade de experiências, desejo e sonhos. A partir daí, traçamos um linear sobre o direto a liberdade, mas, também sobre a responsabilidade. Da corruptibilidade do ser humano e da relação social entre o eu e o outro. Mas, será que a corrente existencialista ainda é importante para os nossos dias?
Vivemos uma época em que em nome da “minha liberdade” matamos, depreciamos, pisamos e retiramos o direto, a existência, a liberdade e a felicidade do outro. Essa liberdade que se torna em uma intolerância despercebida e ou declarada. Onde a relação eu-outro torna-se uma guerra e nela prevalece somente o “meu direto” e os deveres são marginalizados em torno do “meu eu” não sendo parte inerente da minha existência. Essas ações em torno do sujeito levam a uma sociedade caótica. Os exemplos de intolerância não são poucos. Podemos iniciar na religião, passar pela relação de gênero humano e chegar até a um ato de liberdade de expressão legítimo, mas, que fere o direto, o sentimento e a liberdade do outro.
Se pensarmos somente assim, então temos um conflito ético uma vez que o outro é mal por limitar minha liberdade e, por outro lado, ele é bom por se tornar o meio pelo qual alcanço minha felicidade (DANELON, 2002). Sendo assim, o existencialismo é bom? Para responder a esta pergunta torno a lembrar da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Onde em toda sua extensão é declarado o direito a liberdade do indivíduo, mas, que também está descrito suas responsabilidades para com o outro. Nela encontramos os diretos do indivíduo em todos os contextos da sociedade, mas, nela também encontramos os deveres desse indivíduo junto à sociedade. Sim, somos livres e temos nossos direitos. Mas, também temos que saber conviver e viver junto ao outro e a sociedade em que estamos inseridos. Neste sentido, segundo Sartre, a liberdade deixou de ser uma conquista para ser parte da existência humana (DANELON, 2002) e nessa existência somos livres para decidir o que fazer, mas, também somos responsáveis pelas consequências dessas escolhas.
No existencialismo passamos a ter a consciência de nosso individualismo (liberdade para escolher, decidir, traçar e ter objetivos), bem como, passamos a conhecer nossos direitos e a defendê-los de maneira a não retirar o direito à liberdade de outro. Mas, sem deixar de lutar pelo que se acredita por certo enquanto indivíduo e para o coletivo. Através da corrente existencialista podemos combater a corrupção e a dominação de governantes e instituições.
Sim, o existencialismo é importante em nossa contemporaneidade, por produzir uma análise mais profunda sobre o indivíduo, sua liberdade de escolhas e suas responsabilidades para com elas e para sua vivência na sociedade. Assim, concluo como começamos, com uma citação de Abagnano:
“Por todos esses motivos, o existencialismo é importante: por ter combatido radicalmente posturas contraditórias, hipócritas e absurdas de governos e grupos dominantes; por ter aprofundado a análise sobre o sujeito, sua liberdade e postura ante a sociedade; por ter assumido a profundidade e complexidade das situações humanas em seus extremos; por ter respostas que aponta para a solidariedade e o compromisso entre os homens.” (ABAGNANO,
2006, p.39-40 apud TRIGO, 2012, p. 115).
                                                                                 


REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

                                                  
Márcio Danelon. O conceito sartreano de liberdade: implicações éticas. Disponível em: http://www.urutagua.uem.br/04fil_danelon.htm Acessado em: 05 Dez. 2015

Ministério Público Federal, Procuradoria Regional da República da 3ª Região. Declaração Universal dos Direitos Humanos – ONU. Disponível em: http://www.prr3.mpf.mp.br/imagens/boletim_info/dudh-onu.pdf Acessado em: 05 Dez. 2015

TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. Existencialismo: um enfoque cultural. Curitiba: Inter Saberes, 2012. (Acesso na Biblioteca Virtual da
Universidade Metodista de São Paulo via Portal do
Aluno). P. 114 Acessado em: 05 Dez. 2015

_____________. Existencialismo: um enfoque cultural. Curitiba:
Inter Saberes, 2012. (Acesso na Biblioteca Virtual da
Universidade Metodista de São Paulo via Portal do
Aluno). P. 115 Acessado em: 05 Dez. 2015

 Adriano Silva Fermiano é acadêmico do Curso de Bacharel em Teologia da Universidade Metodista de São Paulo

Reconstruindo um relacionamento


“A Bíblia é uma coleção de narrativas que testemunha e revela a presença libertadora de Deus na vida de pessoas, especialmente do povo judeu, em diferentes fases de sua história. Muitas personagens e eventos adquirem uma dimensão universal. Essa tensão entre o particular e o universal percorre as narrativas bíblicas. Assim os primeiros capítulos de gênesis possuem a pretensão de universalidade (criação, casal-humanidade, queda e pecado etc.) para todos e todas em qualquer parte do mundo. Esses escritos mostram múltiplas faces da vida religiosa no cotidiano e está entremeada por políticas que caracterizam um determinado momento. A tensão entre vida e testemunho, vida e teologia, é muito intensa, não havendo muito espaço para abstrações ou especulações. A linguagem é muito concreta mesmo quando trata sobre Deus e suas complexas relações com o povo. Puxar um fio do texto é também puxar um fio da vida, como no avesso de um tapete: as tramas da vida formam a textura dos fios que criam imagens, revelam e representam o modo de Deus falar com seu povo.” (JOSGRILBERG, 2011)

As narrativas de Gênesis vão além da narração da criação das coisas e ordenanças. A partir da criação do homem, e em toda a sua história subsequente, Deus constrói um relacionamento “E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia...” (Gn 3.8a). “...e habitarei no meio deles.” Ex 25.8b. Desde o princípio Deus está em meio à vida a ao cotidiano do ser humano. Todo o relato do Antigo Testamento (AT) comprova a existência e a movimentação de Deus, influenciando de forma direta, na vida do povo.
Nessa relação, podemos verificar que a primeira ação de proximidade, parte de Deus. Ele escolheu aproximar-se de Abrão “Ora, o SENHOR disse a Abrão...” (Gn 12.1a), de Isaque “E apareceu-lhe o Senhor...” (Gn 26.2a), de Jacó “Eu sou o Senhor Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque” (Gn 28.13) e de todos os patriarcas. E se Deus está intimamente ligado ao seu povo, de igual forma sua palavra é, ou ao menos deviria ser, parte da vida e do cotidiano do povo na atualidade.
A falta de recursos, próprios de sua época, para uma distribuição das escrituras. Fez da oralidade (tradição oral) o maior meio de transmissão dos ensinamentos. Foi justamente a falta de recurso que tornou a Bíblia parte do cotidiano e da vida das pessoas. A oralidade era como uma porta aberta a todos. Relação esta bem descrita no texto A Parábola da Porta de Carlos Mesters:
“Porta estranha. Seu limiar parecia eliminar a separação que havia entre a casa e a rua.
Quem por ela entrava parecia continuar na rua. Quem passava na rua parecia ser acolhido e envolvido pela casa. Nunca ninguém se deu conta desse fato, pois era uma coisa tão natural, como é natural haver luz e calor, quando o sol brilha no céu.
A casa fazia parte da vida do povo, graças àquela porta que unia a casa à rua e a rua à casa. Era a praça da alegria, onde a vida se desenrolava, onde tudo se discutia, onde o povo se encontrava.
A porta ficava aberta, dia e noite. Seu limiar era gasto pelo uso no tempo. Muita gente, todo mundo por aí passava.” (MESTERS, 2011)

Não havia separação. Não falava-se em área social, área amorosa, área religiosa, e tantas outras áreas em que subdividimos nosso viver. Deus era tudo em todos, e aquilo que hoje denominamos como religião, era parte integrante da vida do povo.
A leitura bíblica, em especial a do AT, onde está relatada essa construção de relacionamento de Deus para com o ser humano e através da oralidade de um ser humano para outro encontra-se intrinsecamente na história do povo Judeu. E se recebemos, por herança, esse Deus que relaciona-se com os seus, porque em nossa história e em nossas comunidades de fé nos afastamos Dele cada vez mais? Uma vez que o que deveria ser algo do cotidiano, passou a ser assunto acadêmico.
“É possível observar que a Bíblia, desde a tradição oral até o fechamento do cânon, tem uma relação intrínseca com o cotidiano. Como foi dito pelo prof. Paulo Nogueira, no primeiro século não se lia o texto bíblico, o Codex era muito caro e não dava para transportar os rolos, se isso ocorre no primeiro século, no Primeiro Testamento então era impossível de se ler no cotidiano, por isso a tradição oral, neste contexto é de suma importância. A preocupação maior dos cristãos e cristãs do cristianismo nascente não era ter condições de ler o texto, mas sim observar o eixo de interpretação, que não girava em torno do sentido histórico-literal, mas em torno da preocupação de se ligar antigo ao contexto novo da fé da comunidade, ou seja, como lidar com a proposta dos princípios de fé através do texto no cotidiano (SANTOS, 2011).”

Hoje, o grande desafio é reencontrar esta porta, descrita por Carlos Mesters, é reaproximar o ser humano do relacionamento com Aquele que primeiro veio ao nosso encontro. O desafio é levar o texto de volta para a vida, ao cotidiano das pessoas, para que elas redescubram o sentido de comunidade de fé e serviço (SANTOS 2011).

Uma grande ferramenta para essa reaproximação é o estudo da língua hebraica e dos métodos exegéticos. Esses meios nos permitem chegar o mais próximo possível da realidade, dos costumes, cultura e história dos escritos, do meio de vida e principalmente do cotidiano do povo que primeiro vivenciou a Deus.
Os estudos dos métodos exegéticos nos levam a uma proximidade do texto real. E conhecendo esse texto é impossível ficar indiferente nesse relacionamento. Passamos a entender que precisamos estar por inteiros nessa relação com Deus. E esse envolvimento nos inspira e motiva a levar a outros para fazerem partes deste relacionamento, levando em consideração a construção da história da sua vida. Pois assim a Bíblia foi escrita, levando em consideração a história da vida cotidiana de um povo.
Ainda sobre a tradição oral e sua importância para o povo da Bíblia, hoje o que talvez mais se assemelhe a essa tradição seja o tempo que passamos, ou passávamos, na cozinha com familiares, tias, primos, avós, conversando sobre vida, família e antepassados. Ou seja, trazendo à memória fatos da família e com isso passando de geração em geração o conhecimento da sua história. O processo de formação da Bíblia leva em consideração estas histórias da “cozinha”, ou da casa, do clã, da família. (SANTOS, 2011)

 Aprender. Aprender para reaproximar. Reaproximar para entender. Entender para ensinar. Ensinar para levar de volta a Bíblia ao cotidiano de um povo a muito afastado.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS


JOSGRILBERG, R.. Hermenêutica bíblica e a vida cotidiana o DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v16n1p41-50. Caminhando (online), Brasil, 16, jun. 2011. Disponível em:https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/CA/article/view/2536. Acesso em: 16 May. 2015.

 MESTERS, Carlos. Por trás das palavras. 8ª. Ed. Petrópolis: Vozes, 1998. p.13-20 [A parábola da porta – texto disponível na Plataforma Moodle em PDF.


SANTOS, S.. Bíblia e Cotidiano o DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v16n1p51-58. Caminhando (online), Brasil, 16, may. 2011. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/CA/article/view/2526/2665. Acesso em: 17 May. 2015.

Adriano Silva Fermiano é acadêmico do Curso de Bacharel em Teologia da Universidade Metodista de São Paulo

Intolerância religiosa: a ação que afasta o ser humano de Deus



No decorrer da história, muitos são os exemplos de intolerâncias religiosas cometidas pelo mundo. Na grande maioria dos casos “em nome de Deus”.
Segundo o site guia de direitos (http://www.guiadedireitos.org):
“A intolerância religiosa é um conjunto de ideologias e atitudes ofensivas a diferentes crenças e religiões. Em casos extremos esse tipo de intolerância torna-se uma perseguição. Sendo definida como um crime de ódio que fere a liberdade e a dignidade humana, a perseguição religiosa é de extrema gravidade e costuma ser caracterizada pela ofensa, discriminação e até mesmo atos que atentam à vida de um determinado grupo que tem em comum certas crenças.”

Ataques como o ocorrido ao jornal Charlie Hebdo demonstram as últimas consequências da intolerância praticada pelo Estado Islâmico. Segundo o site da folha uol (http://www1.folha.uol.com.br/) durante o ataque os terroristas gritavam "Allahu akbar (Deus é maior).” Como sendo está a forma de justificar os seus atos.
            Mas, não é privilégio do Estado Islâmico as ações de intolerância religiosa. A historicidade da igreja é repleta desses exemplos, bastando lembrar-se das Cruzadas, as Inquisições, a Guerra dos trinta anos e tantos outros eventos que marcaram de forma negativa a ação da igreja, seja ela católica ou protestante, pelo mundo.
            Essas intolerâncias que ainda hoje ocorrem, mesmo no meio evangélico, causam sérias implicações religiosas, políticas, social e especialmente missiológicas. As ações de intolerância causam separação entre as pessoas, não tornando possível o desenvolvimento social, causando sérias implicações na política (uma vez que criam-se bancadas separatistas), distorcem o conceito da religião e não permitem e ou dificultam a propagação do Evangelho entre as pessoas que utilizando-se dos maus exemplos cometidos, em especial pelos evangélicos, não aceitam receber a palavra e criam sentimentos de aversão ao cristianismo. O Dr. Drauzio Varella em seu site (http://drauziovarella.com.br/) faz a seguinte crítica:
 “Os pastores milagreiros da TV, que tomam dinheiro dos pobres, são tolerados porque o fazem em nome de Cristo. O menino que explode com a bomba no supermercado desperta admiração entre seus pares, porque obedeceria aos desígnios do Profeta. Fossem ateus seriam considerados mensageiros de satanás.”
                    
Que possamos entender que as ações de intolerância causam a separação entre o ser humano e Deus. E que diversidade religiosa não é sinônimo de separação. Mas sim, do direito e da liberdade de escolha que nos foi dada pelo próprio Deus. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

Guia de Direitos. Disponível em: <http://www.guiadedireitos.org/index.php?option=com_content&view=article&id=1041&Itemid=263> Acesso em 3 de abril de 2015.

Folha Uol.
Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/01/1571579-tiroteio-em-frente-a-sede-de-jornal-satirico-frances-mata-pelo-menos-um.shtml> Acesso em 3 de abril de 2015.

VARELLA, Drauzio, Intolerância Religiosa. Disponível em: <http://drauziovarella.com.br/drauzio/intolerancia-religiosa> Acesso em 3 de abril de 2015.

Adriano Silva Fermiano é acadêmico do Curso de Bacharel em Teologia da Universidade Metodista de São Paulo

A Escola Dominical em nossa atualidade ainda é necessária?



Em nossa atualidade a Escola Dominical (ED) é realmente necessária? Prefiro antes de responder tentar fazer uma explanação sobre essa “nossa atualidade”.
Estamos no tempo das redes sociais, onde tudo acontece quase que “full time”. As pessoas utilizam as redes sociais de maneira a substituir – consciente ou inconscientemente - os relacionamentos concretos entre os seres humanos. Nessa facilidade de acesso e comodismo queremos sempre o mais moderno o que nos deixe cada vez mais conectados. Com isso, os aparelhos e as tecnologias tornam-se cada vez mais descartáveis e substituíveis. Infelizmente nesse processo as pessoas também vão tornando-se descartáveis e substituíveis. As amizades e relacionamentos passam a ser pautadas pela quantidade de “amigos/as” e “seguidores/as” que temos em nossas redes sociais. E se algum desses “amigos/as” discordar de um post é só retirá-los da lista de amizades e ou deixar de segui-lo/a. Esse fenômeno também vem acontecendo dentro das igrejas e em especial no espaço da ED. Não estamos conseguindo criar um ambiente de relacionamentos coerentes e concretos entre os membros. Estamos no mesmo ambiente, mas, vivendo em outro lugar. E isso é possível pelo simples fato de estarmos fixados / conectados em nossos smartphones querendo saber o que os “amigos/as” estão postando. Assim, a ED vai perdendo o seu sentido e com isso o interesse por estar presente.
Mas, a tecnologia, que nos possibilita acesso rápido e fácil à informação, não é ruim. Ela é uma ferramenta que está sendo má utilizada, em grande parte pelo analfabetismo (entenda como má ou limitada compreensão) tecnológico dos usuários. Luiz Carlos Ramos escreve em seu artigo a seguinte afirmação: “Mas, para que essa mudança possa trazer benefícios, ter acesso à informação por si só não é suficiente; é preciso que se possa interagir com ela, transformá-la em conhecimento.” (RAMOS, 2002, p. 116). Podemos e devemos utilizar a tecnologia como ferramentas auxiliadoras em nossas Escolas Dominicais uma vez que esta tecnologia contém em si um conjunto de multimídia (áudio, visual, escrita e imagens) que bem aplicados aumentam o interesse pelo ensinamento. Na contra mão, a utilização por si só da tecnologia não garantirá a frequência e o interesse pelo espaço e pelos assuntos tratados na ED se não houver um conteúdo de qualidade e estimulante. Ainda em seu artigo Ramos trás a seguinte colocação:
Mesmo assim, ainda temos um problema: a disponibilidade de equipamentos sofisticados não resolve o problema do conteúdo. Um professor ou uma professora que saiba utilizar equipamentos eletrônicos, mas que não tenha conteúdo, estará sempre em desvantagem em relação ao educador ou educadora que tem o que dizer. Na verdade, corremos o risco da desqualificação do ensino ao maquiá-lo com excessivos ornamentos tecnológicos. A disponibilidade de um instrumento maravilhoso não é garantia de que qualquer um possa produzir música maravilhosa a partir dele. O ideal é que o instrumentista esteja apto a produzir o melhor som a partir do melhor instrumento. A mesma atenção que se dá à forma deve ser dada à elaboração do conteúdo (da informação) com o qual se pretende trabalhar nas classes de Escola Dominical. (RAMOS, 2002, p. 116)
Outro ponto a ser levado em consideração é o espaço da ED para a manutenção ou a perpetuação do tradicionalismo. Ou seria da tradição? Bem, vamos entender essa diferença. Carlos Sider escreve no site da Igreja Batista o texto Tradição ou tradicionalismo? Onde podemos encontrar uma sucinta interpretação para essa diferença:
“Tradição é a fé viva dos mortos. Tradicionalismo é a fé morta dos vivos." (...)Tradição  faz bem. Tradição é sinônimo de experiência. Não só a sua, mas a dos seus ancestrais e de seus contemporâneos.
     Mas tradição sem cérebro ligado não vale nada. A tradição ensina o que deu certo e o que deu errado. E para entendê-la, temos de buscar contextos. Para aplicá-la a nós, temos de traçar paralelos, avaliar se é pertinente ou não. Temos de pensar. Temos de orar. Temos de depender de Deus, apesar da tradição.
     Tradicionalismo é colocar a tradição acima de nosso intelecto, acima da oração, acima de Deus. Tradicionalismo é cultuar a tradição. Portanto, tradicionalismo é uma espécie de idolatria.” (SIDER)
Nesse sentido, o que temos feito com o espaço de nossa ED? Estamos fortalecendo a tradição e a identidade  cristã ou estamos perpetuando o tradicionalismo? Saber essa resposta é saber como nortear o conteúdo e os ensinamentos que são trados nesse espaço. Bem como, de que forma devemos e ou podemos aplicar esses ensinamentos em nossa prática de vida. Tornar o espaço da ED em um local onde é perpetuada a tradição e onde se confirma nossa identidade cristã é criar um espaço de interesses e de relacionamentos concretos. É levar em consideração toda a experiência (de erros e acertos) de nossos antepassados e dos heróis da fé de forma a vivermos um presente e construirmos um futuro melhor. Onde o ensinamento nos dará uma melhor preparação para a vida. Neste sentido Josué Adam Lazier vai nos dizer em seu artigo:
“Uma das ações fundamentais para o cumprimento da missão da Igreja é a da educação, comumente chamada de ministério de ensino. No passado este ministério era designado como “ministério docente”. As expressões ministério de ensino ou ministério docente indicam a ação educativa da Igreja. O termo educação apresenta uma compreensão mais abrangente que a Igreja assume para a tarefa docente, ou seja, não se trata apenas da transmissão do conhecimento, mas sim da preparação para a vida, considerando a sua integralidade. “ (LAZIER, 2011, p. 80)
Após esta explanação sobre nossa realidade minha resposta sobre a necessidade da Escola Dominical seria Sim e Não.
Não, no sentido de um espaço onde se perpetua um tradicionalismo que “mata” e sufoca toda a tradição dos antepassados e que distorce nossa identidade cristã em favor de se criar um corpo dominado e dependente de lideranças capitalistas e despreparadas. Não, para um espaço onde utiliza-se de todo o tipo de tecnologia, mas não se prioriza as relações concretas e baseadas em experiências reais de vida. Não, para um espaço onde educadores/as e educandos/as andam separados e não compartilham do ensino e da construção da transformação de um novo viver. Não. E neste sentido, tenho que concordar com a Andreia Fernandes de Oliveira (Coordenação Nacional de Escola Dominical) ao escrever no site da Igreja Metodista sobre o tema “ A Escola Dominical ainda é necessária?” a seguinte afirmação: 
“Para que não pairem dúvidas, passo a explicar. Uma escola dominical não é mais necessária quando se quer apenas manter o tradicionalismo, preencher um horário, transformá-la num reduto de saudosismo, desconectado com a vida, com a atualidade. Nesse sentido, sou a primeira a afirmar que a Escola Dominical não é mesmo necessária.” (OLIVEIRA)
Mas, digo Sim, a um espaço onde a tradição é ensinada e onde a identidade cristã é confirmada nos ensinamentos e no chamado a missão. Sim, para uma Escola Dominical onde educadores/as e educandos/as caminham lado a lado na construção de uma vida e uma sociedade melhor.
“A educação cristã tem o apelo da convivência, do estar junto com os/as outros/as. Educar, neste sentido, é estar com o/a educando/a e, a partir da realidade em que se encontra, caminhar em busca de uma vida transformada. A educação cristã não é só informação bíblica e acúmulo de conhecimentos, implica numa vivência que possibilite que membros da Igreja tenham condições de viver numa sociedade complexa e contraditória como a nossa, sinalizando as virtudes e os valores do reino de Deus.” (LAZIER, 2011, p. 83)
 Sim, para uma Escola Dominical onde exista um espaço de transformação de vida e de mutualidade entre irmãos/as, onde, as experiências são compartilhadas e vivenciadas. Onde o diálogo é parte efetiva desse processo. Neste sentido, LAZIER vai nos dizer:
“A educação feita a partir do amor, da humildade, da fé na pessoa e da esperança é uma educação humana e humanizadora das relações entre educadores/as e educandos/as e, em contrapartida, geradora de uma relação fraterna e de uma convivência de paz na vida em sociedade em meio às suas contradições. É importante assinalar que mesmo no processo de uma educação humanizadora em que o diálogo se faz presente em todos os momentos, não há, necessariamente, ausência de discordâncias ou antagonismos. A educação realizada com estes aspectos não tem como norte tratar as pessoas como se fossem iguais umas às outras, mas, pelo contrário, considerar as diferenças e o contraditório que se apresenta nas relações sociais.” (LAZIER, 2011, p. 84)
Destarte, finalizo minha posição declarando que Sim. A Escola Dominical é necessária para a continuidade, crescimento e fortalecimento do indivíduo em meio a uma sociedade contraditória ao Reino de Deus. Sendo assim, torno a citar a afirmação da OLIVEIRA:
“Em tempos líquidos e fugidios, a Escola Dominical se apresenta como um sólido e permanente espaço de reflexão. Em tempos onde se valoriza o novo e o imediatismo,  a Escola Dominical nos possibilita olhar para o passado, refletir sobre as experiências vividas e iluminar o presente, sem se fechar ao novo, ao sopro do santo Espírito de Deus, que nos anima e aninha.

Em tempos onde o individualismo e a solidão proliferam na mesma medida que as redes sociais são criadas, a Escola Dominical propicia um espaço de convivência, crescimento e fortalecimento de laços para nos ensinar que viver em comunidade é possível sem perder a individualidade.

Para tudo isso é que acredito que a Escola Dominical é necessária!”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
LAZIER, J.. A Bíblia e o ensino: por uma educação integral o DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v16n1p79-85. Caminhando (online), Brasil, 16, feb. 2011. Disponível em:https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/2370/2529. Acesso em: 15 Nov. 2015. P 80

___________. A Bíblia e o ensino: por uma educação integral o DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v16n1p79-85. Caminhando (online), Brasil, 16, feb. 2011. Disponível em:https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/2370/2529. Acesso em: 15 Nov. 2015. P 83

___________. A Bíblia e o ensino: por uma educação integral o DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v16n1p79-85. Caminhando (online), Brasil, 16, feb. 2011. Disponível em:https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/2370/2529. Acesso em: 15 Nov. 2015. P 84

RAMOS, L.. Os fins justificam a mídia: em busca de uma comunicação integral para a Escola Dominical - DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v7n1p110-123. Caminhando (online), Brasil, 7, dec. 2009. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/1484/1508. Acesso em: 15 Nov. 2015. P. 116

____________. Os fins justificam a mídia: em busca de uma comunicação integral para a Escola Dominical - DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v7n1p110-123. Caminhando (online), Brasil, 7, dec. 2009. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/1484/1508. Acesso em: 15 Nov. 2015. P. 116

OLIVEIRA, Andrei Fernandes. A Escola Dominical ainda é necessária?. Disponível em: http://www.metodista.org.br/a-escola-dominical-ainda-e-necessaria Acessado em: 15 Nov. 2015

SITER, Carlos. Tradição ou tradicionalismo. Disponível em: http://vetorial.net/~ibrg/art_est_07.htm  Acessado em: 15 Nov. 2015

Adriano Silva Fermiano é acadêmico do Curso de Bacharel em Teologia da Universidade Metodista de São Paulo

Os Direitos Humanos através de uma educação integral: A Comunidade de Fé apontando o caminho



É sabido que vivemos em uma sociedade onde as coisas estão cada vez mais valorizadas enquanto as pessoas estão cada vez mais “coisificadas”. Vivemos em uma sociedade capitalista onde o caminho para o “sucesso” encontra-se na contramão dos direitos sociais da esmagadora maioria. Essa caminhada para o sucesso do capitalismo trás consigo a injustiça, a exclusão, a desapropriação do ser humano (emocional e vivencial), um trágico aumento da pobreza e o individualismo. Silva salienta que as constantes mudanças da sociedade têm permitido ao ser humano construir seus relacionamentos a partir de sua individualidade, deixando para trás os valores transcendentes. (2009, p. 77)
Neste senário, surge a educação como fonte transformadora para uma Comunidade de Fé que aponta o caminho (em teoria e práxis). “Através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades” (DUDH, pag.1). Onde “a instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais.” (DUDH, pag. 5, Artigo XXVI. 2.)
A educação é em si uma poderosa ferramenta formadora de opinião e de movimentos que com conhecimento e argumentação poderão e podem ter ações que combatam o sistema atual do capitalismo. A igreja possui um ministério de Educação Cristã que é um braço forte na formação de pessoas em sua integridade (formação pessoal, social, política e comunitária). Nesse espaço a igreja pode ensinar a conviver, a ter e a principalmente a ser. Neste sentido LAZIER (2011, p. 82) vai nos dar os quatro pilares, descritos originalmente pela UNESCO, para que a Educação Cristã alcance esse desafio; são eles:
1.                                                 Aprender a conhecer – neste processo o/a educando/a é sujeito e atua ativamente na busca pelo conhecimento e no aprendizado do aprender a saber, ou aprender a conhecer (...) Neste sentido, a pessoa educada  cristamente é agente de transformação da sociedade tendo o Reino de Deus e os valores que sinalizam a presença do Evangelho de Cristo como referencial.
2.                                                 Aprender a fazer – a educação cristã não transmite apenas conhecimento, mas ajuda o/a educando/a a construir este conhecimento e vivenciá-lo em todos os momentos da vida. (...) Educar na perspectiva cristã é educar para a cidadania, para a responsabilidade social, para ação efetiva na sociedade em prol de uma transformação e desenvolvimento das pessoas.
3.                                                 Aprender a conviver – a convivência com os diferentes, num ambiente em que o contraditório se faz presente e questiona, é o grande desafio dos/as cristãos/ãs.(...) A educação cristã tem o apelo da convivência, do estar junto com os/as outros/as.
4.                                                 Aprender a ser – o compromisso da educação cristã é levar (conduzir, caminhar junto com) as pessoas a serem seguidoras de Jesus e a evidenciarem em suas atitudes esta experiência de conversão e transformação. (...) O amor a Deus deve se transformar em amor para com os semelhantes, pois não é possível amar a Deus e não amar ao próximo.
É nessa formação que a Comunidade de Fé pode e deve apontar o caminho para a mudança e a luta contra a injustiça. Se a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) afirma que:
“Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.” (Artigo XXV. 1.)
Então será pela educação e por meio dela que poderemos mudar o conceito e essa aculturação individualista que chegou a nós e permanece nos transformando em seres híbridos, longe dos valores transcendentes.
Tragédias como a de Mariana e os atentados praticados pelo Estado Islâmico ocorridos em Paris, são acontecimentos que deveriam mobilizar todos os povos em ações humanitárias capazes de mudar a situação das pessoas que perderam seus direitos (DUDH Artigo XXV. 1.). Não um assistencialismo incapaz de trazer uma solução ou pelos menos de apontar um caminho para a resolução desta. Nossa sociedade encontra-se muito teórica e com muitos discursos. Utilizamos a bandeira da França em nossos perfis do facebook (o que muito pouco se fez em relação à Mariana). Passamos vídeos em nossas redes sociais sobre o desastre em Mariana. Mas, não temos ações práticas. Existem movimentos isolados esforçando-se para ajudar, contudo, enquanto não houver uma mudança de cultura e uma renovação de entendimento sobre o amor ao próximo, as ações continuarão sendo isoladas.  
Conhecer a Declaração Universal dos Diretos Humanos nos dá pleno conhecimento sobre o que é justiça social e consequentemente o que é a injustiça e como a Igreja é um agente que tem por finalidade combater todo o tipo de injustiça, esse conhecimento trás uma melhor capacitação para o desenvolvimento de planos e ações para que esse combate seja cada vez mais eficaz e cada vez mais abrangente impulsionando a fé a uma prática de vida, na vida e pela vida.     
Concluo com as palavras de Richter Reimer (2009, p. 16) de como através da educação a igreja pode e deve se tornar um espaço de cidadania.
“Para conceber “educação” ou processos pedagógicos faz-se necessário observar o desenvolvimento social e individual de pessoas e grupos. Trata-se de considerar aspectos internos e externos, biológicos e culturais na formação. Do ponto de vista interno, a educação é um acontecimento, uma postura e uma práxis em nível pessoal, mas também institucional-organizacional para um grupo de pessoas que estão interrelacionadas e comprometidas pela consciência e que concordam com valores motivadores para o processo do “vir-a-ser”, bem como de responsabilidades que assumem neste processo. Percebemos, portanto, a educação como um fenômeno dentro de uma dinâmica histórico-global maior (FRÖR, 1986), na qual a práxis do “cuidado” em processos de crescimento e amadurecimento, na construção de uma consciência e de uma auto-estima que tem na confiança um alicerce seguro é elemento fundamental e decisivo.”


REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

LAZIER, J.. A Bíblia e o ensino: por uma educação integral o DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v16n1p79-85. Caminhando (online), Brasil, 16, feb. 2011. Disponível em:https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/2370/2529. Acesso em: 30 Nov. 2015.

Ministério Público Federal, Procuradoria Regional da República da 3ª Região. Declaração Universal dos Direitos Humanos – ONU. Disponível em: http://www.prr3.mpf.mp.br/imagens/boletim_info/dudh-onu.pdf Acessado em: 30 Nov. 2015

RICHTER REIMER, I.. Educação teológica como serviço à vida à luz da práxis crítico-libertadora de Jesus o DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v14n2p15-27. Caminhando (online), Brasil, 14, oct. 2009. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/1104/1130. Acesso em: 30 Nov. 2015.

SILVA, G.. Os desafios do ministério pastoral numa sociedade em processo de globalização: um estudo a partir da implantação e desenvolvimento do protestantismo no Brasil e suas mediações pastorais - DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v8n1p74-88. Caminhando (online), Brasil, 8, nov. 2009. Disponível em:https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/1435/1461. Acesso em: 30 Nov. 2015.

Adriano Silva Fermiano é acadêmico do Curso de Bacharel em Teologia da Universidade Metodista de são Paulo

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Jonas e um Deus que não é nacionalista

 Esse pequeno e simples texto não tem a intenção de ser uma obra completa sobre a vida do profeta Jonas. Mas, tão somente ser uma pequena reflexão sobre a amplitude de Deus em relação ao mundo. Nela tentaremos entender o propósito de Deus para a humanidade, a falha do profeta e o que nós, enquanto igreja e cristãos podemos fazer para ser um canal pelo qual Deus possa nos usar para alcançar todas as nações começando pelo nosso lar. 

O profeta Jonas, profetizou durante o reinado de Jeroboão II e precedendo imediatamente Amós, ele foi um forte nacionalista que estava completamente consciente da destruição que os assírios haviam feito em Israel através dos anos. Politicamente, é óbvio que ele era um amante leal de Israel e um patriota comprometido. Religiosamente, ele professa um temor ao Senhor como o Deus do céu, o Criador do mar e da terra. O dilema e angústia de Jonas iniciam-se na ordenança divina de ir pregar à Nínive. Jonas achou difícil aceitar o fato de que Deus pudesse oferecer misericórdia a Nínive da Assíria, uma vez que seus habitantes mereciam um julgamento severo. [1]
Ao contrário do que pensa a opinião popular Jonas não apresenta medo dos ninivitas, mas, sua fuga encontra-se no fato de Jonas querer se afastar da presença de Javé “se levantou para fugir de diante da face do Senhor” (cf. 1.3). Isso demonstra que Jonas tinha uma visão muito localizada da presença de Deus ou, talvez, uma crença de que o Espírito de profecia não iria segui-lo - A loucura do ser humano que quando no erro ou querendo exercer sua própria vontade tenta esconder-se da presença de Deus (cf. Gn 3.8b).

O livro de Jonas é de uma literatura apocalíptica, pois não há uma mensagem específica para Israel ou para um rei, mas, a própria história é a mensagem de amor e compaixão para com outra nação. O que Jonas não conseguia entender é que Deus escolheu Israel para através dele mostrar-se e fazer-se conhecido por todas as nações. Deus sempre se preocupou com os outros povos, afinal, todos são sua criação. Um bom exemplo está na própria genealogia de Jesus onde contém o nome de quatro mulheres, sendo três pecadoras e uma estrangeira (Tamar [Seu papel foi o de uma prostituta – levou o seu sogro Judá a assumir a paternidade de seus filhos (Gn 38.3-30). Tetravó de Davi], Raabe [Meretriz de Jericó – protegeu os invasores israelitas (Josué 2 e 6) – mulher cananéia] Rute [Mulher estrangeira – moabita descendência da união incestuosa de Ló com sua filha  primogênita (Gn 19.37; Rute 1.4-22)] e Bate-Seba [Mulher de Urias – morto traiçoeiramente por ordem de Davi; desta Davi foi pai de Salomão (2Sm 11.3, 15; 12.24]). 

A ordenança divina de ir pregar a Nínive foi realizada em dois momentos. O primeiro ainda em Israel, Jonas demonstra a Deus sua insatisfação em seguir suas instruções “Ah! Senhor! Não foi isso que eu disse, estando ainda na minha terra?” (4.2). E Jonas pega um navio para Társis. Em alto mar, durante a tempestade que Deus envia, os marinheiros cada uma clamava ao seu deus (1.5). Mas, quando descobriram e entenderam que a causa era o Deus de Jonas converteram-se a Ele (cf. 1.14-16).
O segundo momento “E veio a palavra do Senhor segunda vez a Jonas” (3.1) quando desta vez Jonas atende ao chamado e declara à Nínive a sentença de Deus todos os habitantes desde o rei ao mais humilde rogaram ao Senhor (e até os animais ficaram em jejum) e converteram-se dos seus maus caminhos e Deus arrependeu-se do mal que tinha dito que faria (3.5-10). Onde no diálogo com Jonas, mais uma vez, Deus demonstra sua compaixão descrevendo para Jonas o tamanho da cidade, sua população, seus muitos animais e a falta de discernimento das pessoas. Eles não poderiam ser julgados pela sua ignorância (4.9-11). Como disse o próprio Milton Schwantes ao encerrar seu artigo:
“Esta ênfase no tamanho da cidade ajuda a argumentar em prol de sua preservação. A menção das cento e vinte mil pessoas, que nela vivem e que perfazem que “a cidade” seja “a grande”, igualmente realça a premência de não destruí-la. Sim, inclusive a incapacidade de a população discernir “entre a mão direita e sua esquerda” aparece como argumento em favor da preservação da cidade. E, por fim, os “muitos animais” que lá existem também falam em favor da compaixão à cidade. Surpresa! O v. 11 não se refere ao arrependimento mencionado no capítulo3! A decisão em prol da preservação da cidade está no argumento de Deus e não na postura de conversão do povo, do rei e até dos animais, como se lê no capítulo3. Isso indica que realmente é a própria clemência e misericórdia de Deus (v. 2!) que desativa qualquer castigo destrutivo! O arrependimento de Deus (3.9-10) ‘só’ seria uma maneira provisória de expressar sua ação de amor e clemência. Em última instância a própria liberdade de Deus é compaixão! Veja neste sentido, por exemplo, Oséias 11.8-9 e 14.2-9! Graça transforma, porque é livre, como o diz Oséias 14.5! Por isso, transformar não ‘depende de’, em última análise nem mesmo da conversão, mas nada mais é que o outro lado da compaixão e da misericórdia, enfim da gratuidade.” (pág. 23)[2]

A história de Jonas tem muito a nos dizer a respeito do coração de Deus e a missão da igreja. Deus deseja derramar sua graça às nações. Por isso comissionou a igreja a ir e pregar as boas novas por toda a terra (Mt 28.18-20). Quando a igreja tem a atitude de exclusividade mostrada por Jonas e por Israel ela falha em cumprir sua tarefa. Mas, quando a igreja leva a sério o mandamento de Deus de levantar e ir às nações, aquelas pessoas que ouvem a Palavra e respondem com fé experimentam a misericórdia e o perdão de Deus, na medida de sua mudança de vida e do impacto sobre a sua cultura.[3]

A graça de Deus é algo transformador. A graça tem o poder de igualar os seres humanos, tornando-os iguais perante a Deus. É por meio dela que podemos lidar com as diferenças, em suas diversas esferas, e tratar o ser humano com respeito, compaixão e amor. E entender, por meio da graça, que o próximo não pode e não deve ser julgado pela falta de discernimento relativas as coisas espirituais. Antes, devemos entender que todos somos criação e filhos do Deus único. E que se esse Deus, criador de tudo e todos é capaz de lidar com nossas diferenças (de pensamento a gênero), nós que somos criados sua imagem e semelhança também o deveremos saber.


[1] - Comentário da Bíblia de Estudo Plenitude
[2] SCHWANTES, M.. Convite à compaixão: interpretação e meditação a partir de Jonas 4.1-11 o DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v11n2p13-23.Caminhando (online), Brasil, 11, nov. 2009. Disponível em:https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/CA/article/view/1245/1260. Acesso em: 27 Sep. 2015.
[3] - Comentário da Bíblia de Estudo Plenitude 

Adriano Silva Fermiano é acadêmico do Curso de Bacharel em Teologia da Universidade Metodista de São Paulo.


 
Design by Wordpress Theme | Bloggerized by Free Blogger Templates | coupon codes